segunda-feira, 1 de abril de 2024


 

CANTIGA DO BOI

           Francisco Miguel de Moura*

 

Meu boi não morreu,

venha você pra aqui,

antes que você morra,

Maninha,

venha pro Piauí.

 

Aqui é terra boa,

mesmo sem garoa...

E este solzinho à toa,

                 Maninha,

é melhor do que tudo aí.

 

Aqui tem o Parnaíba,

grande, maior que o mar,

e ainda, de graça

outro rio, o Poty.

Teresina é muito grande,

nossa verde capital,

mulher, moça e menina,

tudo muito bonito

e, de quebra, tem cabra macho.

              Maninha, vem pra cá.

 

No calor ou na chuva,

nosso boi ecoa, ecoa...

Seu mugido saudoso

vem ouvi-lo... Que é boa

a vida por aqui.

 

Nosso boi não vai,

         Maninha.

Quem quiser venha cá.

Se a coisa aí tá russa,

aí é que ele não vai,

          Maninha.

Nem que a vaca tussa.

__________

*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador piauiense.

nascido no interior, veio morar na Capital e diz que daqui

não saio.

quinta-feira, 28 de março de 2024

 

A FLOR E O LIVRO

                 Francisco Miguel de Moura*



Acordei cedinho. Uma flor me viu,

flor que me dera seu primeiro beijo.

 

O sol ia alto. Apressei pra livrar-me

dos raios, e a flor dos meus dedos caiu.

“Eu sou uma flor, esqueça meu cheiro”.

Mas ao lugar do crime a gente volta.

 

Na seguinte manhã, a mesma flor!

Pra meu espanto, solitária e triste.

Então a apanhei da beira do caminho

e a beijei, e o fiz, mas sem reconhecer.

 

Ah! Que maldade a natureza trouxe!

Enquanto os vegetais nos fazem o bem,

nós animais – e “tidos por perfeitos” –

tudo esquecemos... Até a flor e o beijo!

 

Ela chorou, chorou, lembrei seu cheiro

e me voltei em lágrimas e enleios.

E agora a guardo, para o meu carinho,

quando voltar às páginas que leio.

 

Oh! Guardarei o livro para sempre

e o grande amor que a florzinha me deu!

 

Agora, todo dia, eu abro aquela página

e ela está me olhando. E lá estou eu.

                ----------------

 *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

domingo, 24 de março de 2024

 



SEM HORAS


   
 Francisco Miguel de Moura*


Não percas teu minuto, 

nem o de antes nem de depois...

Nele quantas maravilhas 

no mundo de teus olhos!


Quantas fatias generosas

dançam na tua mente,lágrimas

aguando teu oceano de sorrisos. 


Teu pensar, eis que o céu colhe

na dança do de-cá pra-lá

com a volta do de-lá pra cá,

criando teu outro infinito.


Vive este presente forte,

mercadoria que não se compra

nem se vende: de Deus é a graça

surpresa, surpreendida.


Teu minuto é valioso, 

ama-o fruindo a beleza abençoada

do teu mundo e de outros mundos.

Não queiras posse de relógio algum,

pois o relógio mor levas no peito.


Eterno, eis o minuto de cada um! 

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 *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.



sexta-feira, 15 de março de 2024

 


POESIA, O QUE É?

         Francisco Miguel de Moura*

 

Poesia é uma flor que se apascenta,

Se o coração desdobra como a flor.

Como estrangeira, nasce e se apresenta

Sem passaporte, num papel sem cor.

 

Qual pétala de dor que se acalenta

Em palavrões, palavras do desgosto,

Pois se esconde no vaso, que dormenta,

Se não encontra o dia, já sol posto.

 

Diante de tudo, um pouco se ilumina

Em lágrimas vertidas, se domina

Num germinar de riso acolhedor.

 

E vai, e vem, morrendo, e depois nasce

No olhar, no sorriso, face a face,

Na esperança de um eterno amor.

  

        The, PI, 15-08-2024, um dia depois do Dia da Poesia.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

 


PEDAÇO DE MULHER

 

       Francisco Miguel de Moura*

 

 

o homem se perdeu

num pedaço de revista

num corpo sem cabeça

 

o pedestal era uma bola

sensual quanto um bumbum

de costas para o infeliz

 

ele pensa em sua sede

ela, nada - uma figura

 

no papel - mulher rasgada

seios de encanto plenos

cabelos soltos no corpo

pernas abertas em cheio

 

a alma estava por lixo

 

e no jogo de ser  feliz

deu-lhe um beijo no cachaço

antes que o vento levasse

aquele papel «mulher».

 

 

________________

*Fraancisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina, Piauí

sábado, 10 de fevereiro de 2024

 


INTRANSPARÊNCIA

                    Francisco Miguel de Moura*     

          

Belas tardes de abril que não vivi

Porque findaram anos incompletos,

Salvo aquela que a alma só me trava,

Nem sei como escrever, sem ter sentido.

 

Quanto tempo sem horas e sem rimas,

A desdilhar minha alma fugidia!...

Meu horizonte dispersava o ermo

Da estação que foge e delimita.

 

Não sei porque meu peito deblatera,

Sem voos, nem revoos reparados,

A caírem no espaço amortecido.

 

Subi ao céu sem ver o meu passado,

Que não foi meu nem acho que mereço

E agora desço ao fundo... E me desfaço!

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             * Francisco Miguel de Moura, soneto sem rima.

               

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

 


BRINCADO EM VERBOS

                         Francisco Miguel de Moura*

 

Eu soo pela música em corda

               Única

E suo à única letra em alegria

                Plúmíca

Eis-me, assim, poeta e poesia..

___________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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